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News & Events Colapso ambiental em tempos de Covid-19: a vertigem do medo e a máscara da reclusão
Colapso ambiental em tempos de Covid-19: a vertigem do medo e a máscara da reclusão
Colapso ambiental em tempos de Covid-19: a vertigem do medo e a máscara da reclusão
Fonte: Depi
Fonte: Depi
Meio ambiente precisa estar no início e no centro de todas as políticas públicas e de todos os empreendimentos


 


Por Izabella Zanotelli e Mônica Souza Ribeiro


 


Máscaras, álcool em gel, distância física, bloqueios e luvas são as novas demandas pessoais de 2020. Essa previsão ninguém fez ou imaginou que assim aconteceria, obrigando a permanência em domicílio, a reclusão obrigatória e a ausência de toque humano como meios de evitar o contágio da doença e proteção à saúde.


 


Associada às novas medidas, informações transmitidas em velocidade quase imediata promovem notícias e informações sobre os mais diversos problemas socioambientais enfrentados por diversos países do mundo, provocam a pânico, o medo e a polarização de grupos, em contextos diversos.


 


Discussões acerca das melhores decisões a serem tomadas para conter desabamentos, derramamento de substâncias tóxicas, epidemias, enchentes, e agora a pandemia do COVID-19 (corona vírus), tomaram o centro das discussões sobre políticas públicas mundiais a serem adotadas para conter a magnitude dos problemas de ordem ambiental sanitária.


 


Associadas às novas medidas, informações transmitidas em velocidade imediata promovem notícias sobre os mais diversos problemas socioambientais enfrentados por diversos países do mundo, provocam pânico, medo e a polarização de grupos, em contextos distintos.


 


Se analisarmos o discurso ambiental à luz da narrativa de Jared Diamond, no livro O Colapso, e sua linguagem cinematográfica, realizada por Chris Smith, percebemos que o desenvolvimento sustentável sucumbiu ao crescimento econômico. O autor do livro concluiu que danos ambientais, mudanças climáticas, vizinhança hostil e parceiros comerciais amistosos são fatores significativos para contribuir para o colapso ambiental de uma sociedade.


 


A crescente audiência às catástrofes nos faz refletir sobre a influência desses discursos na sociedade, seja para despertar uma nova consciência ambiental, seja para induzir sentimentos como o medo e em como a responsabilidade social pode reduzir esses impactos.  Crimes ambientais causam perdas imensuráveis, irrecuperáveis além de alimentar o pânico coletivo pela sobrevivência em meio a tantas tragédias da natureza em pleno século XXI. Por método indutivo analisamos essas questões e pensamos nas possibilidades de enfrentar medos modernos produzindo outros modos de nos relacionarmos com o ambiente


 


O ser humano tem construído um ambiente artificial em conflito com o seu ambiente natural. Nossas atividades não têm tido nenhum respeito com a natureza. O cientista James Lovelock diz que “a Terra é um ser vivo, um organismo complexo que é capaz de reagir as nossas agressões”. É o que temos assistido, ao subestimarmos o absurdo: ora a ignorância que provoca a cólera, ora, a ignorância dos que refutam a ciência.


 


Podemos fazer uma análise entre tradições sociológicas e culturais de determinados povos com hábitos transgressores ambientalmente e sem compreensão do uso sustentável dos recursos e o consequente aumento de crimes ambientais que intensificam crises com extensão mundial, afetam a subsistência humana,  com a proliferação de doenças, falta de alimentos, escassez e estresse de recursos hídricos, extinção de espécies (tráfico de animais selvagens, por exemplo). Neste caso, é preciso uma mudança e conscientização sobre os hábitos e crenças culturais, a partir do discurso científico, do conhecimento, da educação ambiental e do desenvolvimento sustentável.


 


Grandes problemas ambientais estão relacionados com o modelo econômico-industrial, baseado na energia fossilizada e no carbono, em uma sociedade hiper consumista, o elevado crescimento demográfico que aumenta as demandas sobre um planeta limitado e os danos sociais a eles intrínsecos que relacionam-se diretamente com o culto ao capital, a busca descomedida pelo lucro, a ausência de ética e com os ardis da responsabilidade social e do marketing ecológico, que são discursos higienistas que legitimam o extermínio das pessoas mais vulneráveis econômica e politicamente[1].


 


Embora o discurso do desenvolvimento sustentável tenha ganhado cada vez mais respeito de sustentáculo do impedimento da degradação ambiental, é certo que meras manifestações discursivas não asseguram o comprometimento efetivo com ações[2]. Um fator muito importante como as sociedades respondem de modo diferente a problemas semelhantes.


 


Muitas sociedades do passado tiveram problemas de desmatamento, como as sociedades das terras altas da Nova Guiné, Japão, Tikopia e Tonga e estes desenvolveram um manejo florestal bem-sucedido e continuaram a prosperar, enquanto a ilha de Páscoa, Mangareva e a Groelândia Nórdica não conseguiram um bom manejo florestal e entraram em colapso. Passamos por um momento importante para refletirmos o conceito de desenvolvimento sustentável e os reflexos da sua ausência, quando do crescimento econômico insustentável e quanto aos desequilíbrios socioambientais.


 


A resposta da sociedade a um problema depende das instituições políticas, econômicas e sociais e de seus valores culturais. Tais instituições e valores afetam o modo como as sociedades resolvem (ou tentam resolver) seus problemas.[3] A globalização torna impossível às sociedades modernas entrarem em colapso isoladamente, como a Ilha de Páscoa. Hoje qualquer sociedade em crise, não importa quão remota, seja Somália ou Afeganistão, pode causar problemas para a sociedades prosperas de outros continentes e afetar as próximas gerações[4], tal como está acontecendo agora com a pandemia causada pelo vírus que se espalhou pelo mundo. Lembrando que o direito as futuras gerações estão asseguradas e garantidas pela nossa CF, art. 225


 


No tocante à mídia, por sua linguagem fácil e acessível ao grande público,  é responsabilidade do setor midiático explicar com clareza e objetividade sobre os desafios em relação ao aquecimento global; a escassez de recursos; desertificação dos solos; a destruição da biodiversidade; o aumento  do volume de lixo – bem como o tratamento deste; consumismo desenfreado e compulsivo; transgenia irresponsável; além de sinalizar rumos e perspectivas para a sociedade, dando holofote aos projetos que geram riqueza sem destruir a natureza.


 


O meio ambiente precisa estar no início e no centro de todas as políticas públicas e de todos os empreendimentos, para que os impactos possam ser avaliados, eliminados, minimizados e tenham seus custos atribuídos a quem os gera, e não a toda a sociedade.


 


Sentimento de culpa e mal estar pela responsabilização individual pela depredação ambiental, aquecimento global, pelas toneladas de lixo acumuladas, ou pelo desmatamento das florestas podem ser substituídos por ações de proteção da água, redução do lixo, de consumo, instruídos através de educação ambiental e divulgação das informações para todos os povos. O papel da mídia, nestes casos, é fator decisivo para uma mudança estrutural e permanente das ações da sociedade civil e direcionamento de novos paradigmas para implantação de políticas públicas e a responsabilidade social das empresas privadas.


 


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REFERÊNCIAS


 


DIAMOND, Jared. Sociedades em Colapso. TED TALKS. Legendado. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=szkKzVM93cQ Acesso em: março/2020.


 


BOEIRA, Luiz Francisco Simões; COLOGNESE, Mariângela Matarazzo Fanfa. O papel da criminologia diante da devastação ambiental causada pela criminalidade dos poderosos.  Revista Eletrônica Direito e Política v.12, n.1, 2017. Disponível em: www.univali.br/direitoepolitica ISSN 1980-7791.


 


FERREL, Jeff. Cultural criminology. Anual Review Sociological, 1999, vol. 25. Pg. 396


 


CARRIÈRE, Jean-Claude. A linguagem secreta do cinema. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006 pg. 21


 


LOVELOCK, James. Gaia: alerta final. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2010.


 


Raimundo, Mayara Trindade, Janailto e José das Crianças.  Papel da Mídia na área ambiental. PRO-CIDADE – Projetando Qualidade e Sustentabilidade Universidade Federal do Tocantins – MBA em Gestão de Projetos e Cidades. P. 18/03/2011. Disponível em: https://procidade.wordpress.com/2011/03/18/o-papel-da-midia-na-area-ambi... Acesso em: março 2020.


 


DIAMOND, Jared. O Colapso: como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso. Rio de Janeiro: Record, 2005, Pg. 11


 


[1] BOEIRA, Luiz Francisco Simões; COLOGNESE, Mariângela Matarazzo Fanfa. O papel da criminologia diante da devastação ambiental causada pela criminalidade dos poderosos.  Revista Eletrônica Direito e Política v.12, n.1, 2017. Disponível em: www.univali.br/direitoepolitica ISSN 1980-7791. pg. 168


 


[2] CALAZANS, Danuta; COLLARES, Izabela. A Valorização do Conhecimento Tradicional na Busca do Desenvolvimento Sustentável: um Estudo sobre a Casa das Renderias de Bilro no Delta do Parnaíba/Brasil. Brasília. 2018. ANAIS do VIII Congresso de Direito Socioambiental.  Publicado, 2019.


 


[3] DIAMOND, Jared. O Colapso: como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso. Rio de Janeiro: Record, 2013, pg. 48


 


[4]DIAMOND, Jared. Sociedades em Colapso. TED TALKS. Legendado. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=szkKzVM93cQ Acesso em: 14 fevereiro 2020


 


IZABELA ZANOTELLI COLLARES – Mestranda em Direito e Políticas Públicas pelo Uniceub. Advogada e Pesquisadora em Direito Ambiental e Desenvolvimento Sustentável do Uniceub.


 


MÔNICA THAÍS SOUZA RIBEIRO – Pesquisadora em Direito Ambiental e Desenvolvimento Sustentável do Uniceub. Mestre em Direito Público e Professora Universitária.


 


Este artigo foi originalmente publicado em JOTA.