Associações de camponeses apostam no cultivo de frutas (Angola)
Os camponeses associados em cooperativas no município dos Gambos, província da Huíla, estão a ser apoiados e incentivados a fomentar o cultivo de fruta, por forma a melhorar a qualidade nutritiva da alimentação.
O cultivo de fruta, no município dos Gambos (150 quilómetros a sul da cidade do Lubango), é uma actividade que está a ser incentivada pelo Governo Provincial da Huíla, no quadro do programa de diversificação da economia e de combate à fome e à pobreza.
A acção está a ser financiada pela Agência de Cooperação dos Estados Unidos de América (USAID) e implementada pela Agência das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, em parceria com a Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural, Pescas e Ambiente da Huíla.
Estão a ser plantados limoeiros, laranjeiras, mangueiras, tangerineiras e maracujazeiros. As mudas são seleccionadas e agrupadas por tipo para que haja uniformização no desenvolvimento das plantas, como afirma o agrónomo Avelino Santos, que explica ainda que antes do plantio se enche as covas com uma mistura de terra acrescida de esterco de curral.
A actividade de cultivo de fruta nos Gambos é feita de forma orientada. O uso da linha orientadora para evitar o desalinhamento das fruteiras é encabeçado pelo engenheiro agrónomo Avelino Santos. Ele diz que, aquando da abertura das covas e posterior plantio das mudas, é recomendável o uso da fita métrica de plantação que evita o desalinhamento das plantas. O mesmo processo é repetido no momento do plantio da muda. Feito o plantio, como esclarece Avelino Santos, faz-se uma leve compactação da terra ao redor da muda e a bacia para conter a água de irrigação.
André Tomás Muimbove, 70 anos, é o presidente da Associação dos Camponeses Onjala Ipue, na comuna da Chibemba. Capta bem a mensagem transmitida no processo de cultivo de fruteiras.
Com a planta ensacada, André Tomás Muimbove coloca a muda na cova e deixa o colo da planta ao nível ou um pouco acima do terreno. Depois de colocar a terra, faz uma leve compactação, constrói uma bacia ao redor da planta, enche com água e cobre com capim seco para manter a humidade local para evitar o crescimento de ervas daninhas.
A mesma técnica é seguida por Manuel Mantempa, 54 anos. Ao Jornal de Angola, o engenheiro agrónomo esclarece que as espécies de árvores fruteiras escolhidas são as que melhor se adaptam às condições do clima e do solo da região do município.
A plantação de fruteiras nos Gambos abrange também os membros da Associação de Camponeses Onjala Ipue, na localidade de Garanja, comuna da Chibemba, integrada por 50 pessoas, das quais 30 mulheres. O cultivo de fruteiras contempla ainda as associações de camponeses das localidades da Embala dos Gambos, Kakete, Tchitundo, Dumbo e Imbica.
Os terrenos passam a ser bem aproveitados. A região dos Gambos possui terrenos férteis. “Cultivamos cereais de milho, massango e massambala. No quadro do programa de combate à fome e à pobreza, os camponeses receberam sementes melhoradas, o que tem sido positivo”, disse o camponês.
O município da Humpata é famoso pelo cultivo de fruteiras. “Queremos transformar o município dos Gambos numa região potencial na produção de frutas, disse, acrescentando que, além dos homens, as mulheres também participam no processo de cultivo de fruteiras de forma efectiva.
Manuel Mantempa garantiu que o cultivo de fruteiras decorre com sucesso. É uma acção que dá garantias no combate à fome e à pobreza. Referiu que a associação recebeu estacas de mandioqueiras, uma cultura que resiste ao período seco.
O apoio em animais para fomentar a actividade agrícola no município é outra preocupação manifestada pelos camponeses. “Gostaríamos de possuir tractores para o fomento da agricultura mecanizada”, disse. A necessidade de uma motorizada de três rodas, conhecida localmente como “caleluia avô veio”, é outra preocupação manifestada pelos camponeses, para facilitar o escoamento de sementes, como disse Manuel Mantemba.
Projecto integrado
O cultivo de fruteiras nos Gambos está inserido no projecto integrado de resiliência Sul de Angola e Norte da Namíbia.
O coordenador dos programas de emergência da Agência das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), em Angola, Matteo Tonini, esclareceu que a acção está contida no projecto de redução e gestão de risco de desastres para apoiar as comunidades agropastoris afectadas pela seca recorrente e outros desastres naturais no Sul de Angola e Norte da Namíbia, que tem como financiador a Agência de Cooperação dos Estados Unidos de América (USAID), com a parceria do Ministério da Agricultura na sua implementação.
Fortalecer a segurança alimentar e aumentar a capacidade de resiliência dos meios de vida agropastoris, assim como a capacidade de gerir os riscos relacionados aos desastres naturais a nível comunitário e das instituições locais são alguns dos objectivos traçados com a implementação desta acção que, na Huíla abrange o município dos Gambos.
A melhoria da produção agropecuária, da saúde e da nutrição animal, da gestão do solo e da água e da gestão do sistema de alerta precoce são os resultados esperados.
O coordenador dos programas de emergência da FAO em Angola, Matteo Tonini, disse que, no quadro do programa, já se prestou apoio directo a mais de 50 mil famílias camponesas com sementes, imputs agrícolas, das províncias da Huíla, Cunene e Namibe, das quais mais de mil dos Gambos.
A construção de 100 escolas de campos agropecuários, das quais oito no município dos Gambos, assim como a instalação de 48 sistemas de rega gota-gota nas comunidades vulneráveis, incluindo a distribuição de motobombas e a instalação de reservatórios de 10 mil litros, sendo cinco no município dos Gambos, constam do projecto.
A reabilitação de 15 pontos de água, dentre nascentes de água, furos, cacimbas e chimpacas para dar de beber ao gado bovino são outras actividades realizadas com sucesso no município dos Gambos.
“A instalação do sistema de bombagem com electrobombas submergível e painéis solares, a colocação de uma torre de cinco metros e um reservatório de 10 mil litros e a construção de chafarizes e bebedores para o gado são outras acções efectuadas com sucesso”, destacou.
Tratadores de gado
Mais de 200 tratadores de gado bovino foram formados em matéria de sanidade animal, nos últimos três anos, pela Direcção Provincial da Agricultura, através do Departamento de Veterinária na Huíla, em parceria com a Agência das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) e a Agência de Cooperação dos Estados Unidos de América (USAID).
Matérias relacionadas com noções básicas sobre as principais doenças que afectam o gado bovino, tais como a dermatite nodular, carbúnculo hemático e sintomático e a sarna, entre outras, são abordadas na formação.
A formação em transformação e conservação dos alimentos (carne e leite) e a instalação do sistema de alerta e realização de boletins informativos constam das acções desenvolvidas com sucesso no município dos Gambos, província da Huíla.
Plantação de fruteiras
O responsável sublinhou que a selecção e a distribuição de sementes de árvores e ervas forrageiras para as comunidades locais permitiram à população camponesa da província da Huíla autonomizar a produção de alimentos.
No quadro do fomento da produção de fruteiras, foram distribuídas mais de mil plantas diversas aos camponeses das comunas do Chiange e da Chibemba, no município dos Gambos.
A produção de limoeiros, laranjeiras, mangueiras, pessegueiros e macieiras, entre outros, tem estado a merecer uma atenção especial no projecto, que visa também diversificar a dieta alimentar das famílias.
Para o plantio correcto, as mudas fruteiras são seleccionadas e agrupadas por tipo e peso para que haja uniformização no desenvolvimento das plantas. No município dos Gambos, foram instalados cinco sistemas de rega gota-gota com capacidade de bombear 7.000 metros quadrados cada unidade. O director provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural, Pescas e Ambiente, na Huíla, Lutero Campos, afirmou que a produção de fruteiras na província é feita em grande escala nos municípios da Humpata, Chibia e Matala e que os incentivos estão a facilitar a prática da actividade no município dos Gambos.
Lutero Campos referiu que o município dos Gambos tem uma área de 11 hectares destinada à plantação de fruteiras com uma renda por quilograma por cada hectare de quatro mil, com uma produção de 44 toneladas.
O município dos Gambos tem características para o fomento da produção de fruteiras, que vai possibilitar que os campos de cultivo sejam aproveitados durante todo o ano.
O responsável disse que a produção de macieiras, pereiras, laranjeiras, limoeiros, mangueiras, tangerineiras, pessegueiros, videiras e nespereiras, entre outras, é também feita nos municípios do Lubango, Quipungo, Jamba, Cacula, Quilengues, Caluquembe, Caconda, Chicomba, Gambos e Chipindo.
Lutero Campos especificou que o município da Humpata tem uma área de 104 hectares, com um rendimento por hectares de 10.000 quilogramas, que produz mais de 104 mil toneladas por ano e o município da Matala, situado a 180 quilómetros a leste da cidade do Lubango), tem sob controlo 187 hectares de área produzida de fruteiras, com uma produção estimada em 1.870 toneladas.
O município da Chibia, que dispõe do perímetro irrigado da barragem das Ganjelas, tem uma área de 89 hectares com rendimento de 6.000 quilogramas por tonelada e uma produção de 390 toneladas. Caluquembe, indicou Lutero Campos, dispõe de uma área de 65 hectares, com uma produção de 390 toneladas.
A produção de frutas é também feita no município da Cacula, que tem uma área total de 24 hectares, com uma produção estimada em 144 toneladas, Caconda, com uma área de 42 hectares e produz mais de 252 toneladas.
O município de Chipindo, situado a 456 quilómetros a leste da cidade do Lubango, tem 21 hectares de área para produzir 105 toneladas, a Jamba, com 46 hectares, faz uma produção de 230 toneladas e Quilengues, com 66 hectares, tem uma produção de 396 toneladas.
Durante a campanha agrícola 2016, salientou Lutero Campos, foi feito um acompanhamento das actividades realizadas pelos agricultores e camponeses localizados ao longo dos canais adutores principais nas áreas de produção de fruteiras, bem como daqueles que trabalham nas parcelas sob gestão do Gabinete de Desenvolvimento Hidroagrícola da província.
Foi constituída uma equipa de técnicos agropecuários com a finalidade de orientar e fazer um melhor acompanhamento sobre o aproveitamento das suas terras, assim como a utilização das práticas agrícolas e melhor racionalização dos recursos hídricos, com a finalidade de alcançar-se melhores resultados nas colheitas e tirar-se o máximo rendimento das suas áreas de cultivo.
O director provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural, Pescas e Ambiente, na Huíla, esclareceu que a importância nutritiva das frutas na alimentação é conhecida e desejada por todos.
“Na província da Huíla, além de grandes superfícies de terra cultivadas de fruteiras, o cultivo de árvores de fruteiras em pequenas áreas tem a participação de todos. Com isso, a exploração de um pomar nos dias actuais nem sempre é feita por pessoas que vivem e dependem directamente da agricultura, isto é, não são agricultores tradicionais”, aclarou.
Lutero Campos elucidou que os incentivos que o Executivo está a criar junto dos grandes agricultores têm sido fundamentais para a produção de citrinos em grande escala, na Huíla.
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