Assembleia geral do povo reuniu 72 caciques e mais de 500 Munduruku, representando 140 aldeias. “Estão usando nosso nome”, denuncia carta
Caciques do povo Munduruku, representando aldeias do médio e alto Tapajós, no Pará, e do baixo Teles Pires, em Mato Grosso, divulgaram uma carta em que se posicionam contra o Projeto de Lei (PL) 191/2020, de autoria do governo Bolsonaro, que busca liberar a mineração em terras indígenas.
A carta é resultado da assembleia geral realizada pelo povo entre os dias 24 e 27 de abril na aldeia WaroApompu, na região do Alto Tapajós. Segundo o documento, a assembleia contou com a presença de 72 caciques e mais de 500 indígenas, representando 140 aldeias Munduruku.
“Não queremos o projeto de lei 191/20 que o governo federal Jair Bolsonaro quer aprovar de qualquer custo em cima do nosso território, sem consultar e sem o consentimento do povo, esse projeto de morte é o que está trazendo divisão entre o nosso povo, trazendo violência, estão atacando as mulheres e lideranças que lutam pela defesa do território”, denunciam os caciques.
Nas últimas semanas, os conflitos no território Munduruku se acirraram, com a presença de garimpeiros armados impedindo a circulação de indígenas no interior da Terra Indígena (TI) Munduruku e ataques contra a associação Wakoborun, cuja sede, em Jacareacanga (PA), foi destruída durante uma manifestação de garimpeiros.
“Os pariwat [não indígenas] estão usando o nome do nosso povo Munduruku a favor da PL 191”
A situação levou o Ministério Público Federal (MPF) a requisitar a presença de forças federais em Jacareacanga e, mais recentemente, solicitar ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma intervenção federal no estado, a fim de garantir a segurança dos indígenas e “conter a escalada de ataques de garimpeiros contra lideranças indígenas, associações e, em última análise, o próprio povo Munduruku”.
Além disso, o órgão federal abriu uma apuração para investigar a ocorrência de improbidade administrativa por parte de autoridades responsáveis por evitar a invasão garimpeira na TI. Em abril, circularam informações sobre uma mobilização de garimpeiros e políticos, em articulação com o governo federal, para levar a Brasília indígenas do povo Munduruku, com a intenção de apoiar a aprovação do PL 191/2020.
“Os pariwat [não indígenas] estão usando o nome do nosso povo Munduruku a favor da PL 191”, denunciam os caciques Munduruku. “Nenhuma associação tem o direito de representar o povo Munduruku isoladamente, para isso temos o protocolo de consulta do povo Munduruku, de acordo com a Convenção 169, para fins de consulta prévia, livre e informada”.
“Esse projeto vai trazer mais prostituição, drogas, doenças e mercúrio, o dever do Estado é proteger e não incentivar a entrada em nosso território”
Devastação causada por garimpos ilegais dentro da TI Munduruku, no Pará, registrada em 2019. Foto: Christian Braga/Greenpeace
Na carta, as lideranças ainda cobram a demarcação das TIs Sawre Muybu e Sawre Bapin, localizadas no médio Tapajós, e citam a devastação causada pela mineração, que já devastou diversos rios no território Munduruku, contaminando o povo com altos indíces de mercúrio.
“Precisamos de vida e não de morte. Sabemos que esse projeto vai trazer mais prostituição, drogas, doenças e mercúrio, o dever do Estado é proteger e não incentivar a entrada em nosso território”, afirma o documento.
Leia a carta na íntegra:
CARTA DOS CACIQUES DO POVO MUNDURUKU
Somos caciques do povo Munduruku, convocamos essa assembleia geral que aconteceu no dia 24 a 27 de Abril na aldeia WaroApompu, esteve presente 72 caciques e mais de 500 Munduruku. Discutirmos todos os projetos de morte que já estão afetando nosso território. Estamos nos reunindo por acreditarmos que a partir da organização, da reunião e da conversa vamos encontrar as soluções dos problemas. presente
Discutimos sobre a organização Pusuru, como está sendo usada para destruir nosso território, desrespeitando nossos caciques e não protegendo a vida de nosso povo. Decidimos extingui-la, para que parem de usar contra nosso povo, contra nosso rio e território. Estamos doentes, sem água, os peixes e caças sumindo, associação é para ajudar o povo e não pra ajudar a destruir nosso futuro.
Discutimos a questão da demarcação dos Território Sawre Muybu e território Sawre Bapin. O governo tem que demarcar os territórios indígenas e não com o propósito de querer explorar as terras indígenas.
Discutimos sobre o papel do cacique, que deve cuidar do seu povo, não permitir que entre projetos dos Pariwat. Do papel do professor que é trazer a informação verdadeira. E do profissional da saúde que é cuidar da vida do nosso povo. Essas importantes lideranças não podem se envolver com a exploração de nosso território. Sabemos que hoje todos nós somos estudados por isso não estamos perdidos para descobrir o que é errado, principalmente os projetos dos governos que fazem a vontade dos pariwat que vem invadir a nossa região.
Não queremos o projeto de lei 191/20 que o governo federal Jair Bolsonaro quer aprovar de qualquer custo em cima do nosso território, sem consultar e sem o consentimento do povo, esse projeto de morte é o que está trazendo divisão entre o nosso povo, trazendo violência, estão atacando as mulheres e lideranças que lutam pela defesa do território. Os pariwat estão usando o nome do nosso povo Munduruku a favor da PL 191. Nenhum senador, deputado ou vereador pode falar pelo povo Munduruku, e nem dizer que representa o povo.
Nós que decidimos o que queremos para o nosso território, queremos mostrar que estamos aqui, esse homem que se diz presidente do Brasil não nos representa. Primeiro tem que fazer o papel de respeitar os povos indígenas e seus territórios. Precisamos de vida e não de morte. sabemos que esse projeto vai trazer mais prostituição, drogas, doenças e mercúrio, o dever do Estado é proteger e não incentivar a entrada em nosso território.
Somos mais 140 aldeias incluindo o médio, alto tapajós e baixo Teles Pires. Somos guerreiros, vamos sempre proteger o que é nosso. O congresso Nacional não pode aprovar esse projeto sem ao mesmo nos ouvir. Não queremos que eles sentem com pequenos grupos pró-garimpo, esses não podem falar por todo o povo.
Nenhuma associação tem o direito de representar o povo Munduruku isoladamente, para isso temos o protocolo de consulta do povo Munduruku, de acordo com a Convenção 169, para fins de consulta prévia, livre e informada.
Somos autônomos, quem está na luta somos nós mesmos, as nossas organizações, principalmente o Movimento Ypereg Ayu e as organizações que colaboram com ele. trabalhamos independente, sem depender do governo.
A gente está cansado de esperar pelo governo.
Sabemos claramente de nosso direito constituído na Constituição que é a carta magna.
Os caciques formalizaram e elaboraram suas determinações contra o projeto do governo que ferem os direitos da população indígena existente no Brasil, aqui falamos exclusivamente Munduruku. Nós defendemos vidas. vida de seres humanos, animais, florestas, rios e todas as formas de vidas existentes na natureza. O nosso lema será sempre promover segurança e proteção e bem-estar de todos.
Aldeia Waroapompu, Terra Indígena Munduruku, 26 de abril de 2021
Source
Language of the news reported
Copyright © Source (mentioned above). All rights reserved. The Land Portal distributes materials without the copyright owner’s permission based on the “fair use” doctrine of copyright, meaning that we post news articles for non-commercial, informative purposes. If you are the owner of the article or report and would like it to be removed, please contact us at hello@landportal.info and we will remove the posting immediately.
Various news items related to land governance are posted on the Land Portal every day by the Land Portal users, from various sources, such as news organizations and other institutions and individuals, representing a diversity of positions on every topic. The copyright lies with the source of the article; the Land Portal Foundation does not have the legal right to edit or correct the article, nor does the Foundation endorse its content. To make corrections or ask for permission to republish or other authorized use of this material, please contact the copyright holder.